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sexta-feira, 6 de abril de 2012

Oi Lucca,


como você está? Sei que faz tempo desde a última carta, a qual jurei que não te escreveria mais. Mas é que estava deitada na minha cama, escutando música, pensando e começou a chover. Lembrei de você e, sem querer, chorei. Não de tristeza, de saudade! Como foi bom o tempo que passamos juntos, não? A mais estranha amizade.
Você se lembra de quando nos conhecemos? Não?! Nem eu. Você, o sobrinho da namorada do meu tio, fomos criados como primos. E as nossas brigas? Eu sempre estava certa e você me contrariando (não mudei nada). Agora me fala, quem brincaria de futebol com você sem eu? Ou quem aceitaria brincar de boneca comigo sem você? Formávamos uma boa dupla, hein? Tão bobos, tão inocentes.
Aí, nos crescemos. Ficamos mais próximos, ou melhor, inseparáveis. Lembra da primeira vez que fomos ao cinema sozinhos? Depois do filme, começou a chover, como hoje, invés de esperar o ônibus resolvemos brincar na chuva, Uma moça e um rapaz correndo na chuva feito criancinhas. Sempre gostei de brincar de pega-pega, você era tão lerdo. Quando você conseguiu me alcançar, já estávamos encharcados, pingava água das nossa roupas e dos nossos cabelos. Lembro como se fosse ontem. Eu rindo e você sério, me olhando intensamente. Se aproximou devagar, tirou aquela mecha de cabelo que sempre caía nos meus olhos e me abraçando, seus lábios tocaram os meus. Claro que na hora eu não percebi mas agora percebo que foi a melhor sensação do mundo. Foi como em um filme, como se todos tivessem parado só para nos observar. Ainda acho graça da nossa reação, ficamos nos olhando meio assustados, como se tivéssemos feito algo errado,  aquela sensação estranha. Um mês sem conversar foi o resultado do nosso beijo.
Não sei se por vergonha ou por falta de coragem nunca falamos sobre isso mas também não nos desgrudamos mais, né? Tudo que fazíamos era juntos: passear, estudar, caminhar, assistir a filmes e escutar música (só as quais eu gostava, é claro). Acho que você fazia de tudo para me agradar, e eu adorava isso. Você me entendia direitinho, você sabia de tudo que eu precisava. Eu não ficava atrás, né? Inventava mil piadas (sem graça) para tentar te animar quando você estava emburrado. E naquele domingo, depois do almoço, que deitamos na rede e eu acabei dormindo nos seus braços? Eu me sentia tão protegida abraçada a você, aquecida com seu calor. Será que ninguém percebia o nosso romance? O nosso puro amor.
E em um dia ensolarado você me deixou. Foi para um lugar onde não posso te visitar. Forte, fria, não sei, não chorei ao saber que você tinha virado estrela. Sei que você é a estrela mais linda no céu, sei que, independentemente de onde você esteja, você não me esqueceu, ainda está comigo, meu anjo. Mas eu sinto a sua falta, rir das nossa caras e bocas, de compartilhar nossos segredos, de ver o sol se pôr. A chuva acabou. A música parou. E eu ainda estou viajando no tempo, nas lembranças.  Queria ter te dado mais um abraço, mais um beijo, de ter me despedido. Bem, já está tarde, é melhor eu ir dormir (talvez você apareça no meu sonho). Sabe, ainda tenho dificuldade de acordar cedo, como antes. Espero que esteja tudo bem aí. E não fique preocupado porque aqui está tudo tranquilo comigo e com a minha família.
(como eu queria que você me respondesse)
Com muito amor e muita saudade,
Alice Calhabel.