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sábado, 21 de dezembro de 2013

Sobre palavras

"Palavras são, na minha nada humilde opinião, nossa inesgotável fonte de magia" já diria Dumbledore , o personagem mais sábio da minha infância.  As palavras carregam em si o poder de emocionar, de chocar, de enraivecer e de envaidecer. As palavras ditas acalmam o coração dos apaixonados, retorcem as feridas dos inimigos e calam os argumentos dos ignorantes. As palavras são mutantes, há quem ame um neologismo. As palavras faladas evidenciam como o presente não volta, como o tempo não permite mudá-las, no entanto, ele pode fazer com que sejam esquecidas. Por outro lado, as palavras escritas são como tatuagens  mesmo que abandonadas sempre poderão ser consultadas, relidas e podem até ser corrigidas mas dificilmente serão apagadas.
As palavras escondem segredos, sentidos e significados. As entrelinhas estão mais cheias que as linhas. E em um mundo onde as pessoas se relacionam essencialmente pela rede, as palavras aparecem secas a mercê da interpretação de quem lê. Um curtir pode significar muito mais que só um curtir, será que está afim? Curtiu mesmo ou foi só para agradar? Uma atualização de status pode virar uma guerra, será que foi uma indireta? Ou mais uma ironia? 
E nessa vida virtual, perdemos a contradição de um "não" cuspido pela boca e de um "sim" dito pelos olhos. No virtual, não há como perceber se aquela pessoa tremeu ao ler seu sorriso. Como saber se é real ou só virtual? E o pior, na rede há o falso momentanismo das palavras faladas, sendo que elas estão todas digitadas e eternizadas. Aquele te adoro que te disse, por mais que agora eu te odeie, poderá virar uma arma guardada no histórico do seu celular.  
E ainda há aquelas palavras que ficam presas em nossos cérebros e corações. Entaladas na laringe. Remoendo e doendo. Deve haver um momento certo para ser ditas mas e se nessa hora faltar a coragem? A verdade é que as palavras não podem se tornar prisioneiras, elas foram criadas para ser livres e consequentemente todos têm liberdade para dizê-las. Como diria Voltaire, "posso até não concordar com nenhuma palavra que disser mas defenderei até a morte o direito de dizê-las". Entretanto ao defender uma opinião contrária muitos são acusados de ser antidemocráticos. Cuidado com o tom e o espaço em que são ditas, não são todos que estão preparados para recebê-las. 
Vou confessar que as minhas palavras preferidas são as escritas as quais podemos ler e reler o quanto quisermos. Interpretar de acordo com o nosso humor. Escrever de amor até terror. Ah, escrever, um momento encantador, em que há só a minha cabeça e as palavras trabalhando em sintonia e refletindo um pouco as minhas reflexões tão bem guardadas.
 A mágica das palavras está em cada letra que preenche um linha, uma página, um papel e a alma.   

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Suplício

Ah, a madrugada
um perigo!
mais fácil descifrar os pensamentos
é o que eu digo.
Ah, a madrugada
um perigo!
tão boa pra ser desperdiçada
dormindo.
Ah, a madrugada
um perigo!
nela coube todos os seus sonhos,
beijos e sorrisos.
Ah, a madrugada
um perigo!
Se não me faltasse coragem
te teria aqui comigo.
Ah, a madrugada
um perigo!
se soubesse o que sinto
fugiria, imagino.
Ah, a madrugada
um perigo!
quantos poemas escreveria pra você,
querido.
Ah, a madrugada
um perigo!
me iludindo com um romance
de dois tímidos.
Ah, a madrugada
um perigo!
tudo que poderia ter sido,
que bonito.
Ah, a madrugada
um perigo!
um mundo que o medo não deixou
ser dito.
Ah, a madrugada
um perigo!
me dê mais uma chance de estar contigo.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

OI?!



Depois de mais um dia de trabalho, posso finalmente me sentar no sofá e cuidar um pouco da vida dos outros. O maior vício da atualidade é sem dúvidas o Facebook! Vejo que tenho uma nova solicitação de amizade. Você. Fiquei perplexa, você sempre esbravejou o quanto considerava fútil redes sociais. Em seguida, tenho uma crise de riso, então você quer ser meu amigo? Depois de tanto tempo você ainda se lembra de mim? Poxa, que novidades remotas.
Mas eu não sei se quero ser sua amiga! Fazer charme para mim mesma, ridículo. Analiso seu perfil, até que você continua muito bonito e solteiro. Veja só, concluiu a tal da faculdade de Direito, deve estar ainda mais insuportável. Conheceu a França, Rússia e a Alemanha. Preferência política: Esquerda, como se eu precisasse de Facebook para saber isso.
Ok, vou deixar você ser meu amigo afinal alguém que leu Harry Potter é digno de amizade!
Uns trinta minutos depois, percebo que estou entediada, já vi tudo que se podia ver no Feed. Vamos ver se tem alguém interessante online. Vejo o bonitinho on. Aí o drama começa.
Será que eu falo oi?! E se ele não me responder? Mas eu queria tanto saber como ele está, saber o que ele tem feito, contar o que eu fiz durante o tempo que nos afastamos! Contar daquele livro que ele ia amar, compartilhar aquela música do cantor que ele ama e que me fez lembrar dele... Acho que ele não se importa mais com o que eu penso. Vai ver ele me adicionou sem nem lembrar quem eu sou. Bobagem. Se ele não me responder ou se não se lembrar de mim, eu também posso simplesmente ignorar. Digito o-i. Mas falta coragem de apertar o enter. E se ele responder, o que eu faço? Pergunto tudo bem, e depois? Há tanto para dizer e ao mesmo tempo nada. Não sei mais como falar com você, já não é natural como foi um dia. Mas essa saudade no meu peito é real, eu sei que é. E eu quero que você saiba, a gente é tão parecido, eu sinto sua falta. Mas como? O tempo se encarregou de que a nossa história se tornasse só lembranças.
No entanto, um "oi, tudo bem?" pode ser um novo começo. Ok, coragem! Fecho os olhos e aperto enviar. Em seguida, leio: visualizada. O coração acelera, surge aquele frio na barriga. Será que ele vai me responder? A resposta vem em um segundo: ele está digitando...

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Lágrimas

Minhas, tão minhas
se formam no canto dos olhos
e escorrem sem permissão.
Revelam que estou cansada
de tudo e de nada.
Ninguém as compreendem
mas como pudera?
Afinal são só minhas.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Homens

Era mais ou menos sete horas da manhã e a jovem estava um pouco atrasada. Ela tinha uma consulta marcada no dentista, o consultório fica a uns trintas minutos da casa dela. Geralmente, a moça é muito atenta e observadora, repara em tudo e todos na rua, entretanto, hoje estava distraída. Distraída o suficiente para não reparar no moço do outro lado da rua. Ambos esperavam o sinal fechar para atravessarem. Após alguns segundos, os carros pararam e eles puderam inverter os lugares.  Quando o rapaz passou ao lado da moça maliciosamente lhe disse:
- Gostosa!
E seguiu o seu caminho.
Já a moça a principio ficou confusa. Ele tinha mesmo falado para ela?Será? Olhou a roupa que estava usando, nada sexy! Calça Jeans, camisa e tênis. Olhou ao redor, as calçadas ainda estavam vazias, só eles tinham atravessado a rua. Concluiu que de fato foi pra ela. Riu e começou a refletir sobre a situação.
Claro que essa não foi a primeira vez que isso aconteceu e não seria a última. O que ela não entendia era por que os homens fazem isso. Será que eles acham mesmo que com isso vão chamar a atenção de uma mulher ? Ok, chamar atenção eles conseguem mas conquistar/atrair?! Pior, será que alguma mulher algum dia caiu nessa 'cantada'? Provavelmente sim, é a única justificativa para eles continuarem fazendo isso.
Mas ela não conseguia acreditar. Eles devem fazer isso só para se divertirem. O moço devia estar rindo dela agora ou talvez tenha encontrado outra gostosa pelo caminho. Ou vai ver nem está pensando em nada. Homens, em sua maioria, não pensam duas vezes antes de fazerem ou dizerem alguma coisa. Na verdade, nesse momento, ela estava até duvidando que homens pensavam. Idiotas.
Será que eles já se colocaram no lugar das mulheres? A impressão que ela fica é que as mulheres são só objetos, um belo par de pernas como ouviu um dia. Imaginou o ser que algum dia caiu nessa cantada. Ela esperava do fundo do coração que essa pessoa fosse expulsa do conceito MULHER.  Logo que pensou nisso arrependeu-se. Tentou colocar-se no lugar dessa mulher. Provavelmente, essa mulher devia estar com baixa auto-estima, devia ter sofrido com outros homens, devia estar na seca para aceitar qualquer um.
A esse ponto já estava um pouco revoltada. Por sorte ela teve que interromper seu pensamento, finalmente, tinha chegado no dentista.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Múltiplas

Ela acordou, ou melhor, abriu os olhos e ainda cansada voltou a fechá-los. Imaginou como se vestiria para aquele dia. Arrastou-se para o banheiro, ligou o chuveiro ainda sem nenhuma ideia. Preguiçosamente, optou pelo mais natural possível. Cabelo molhado, mal penteado, sem maquiagem e uma sapatilha para acompanhar.

Ele se encantou pela simplicidade dela. Tão natural como um sol. Um bagunçado, harmonioso. Uma menina. Lembrou das brincadeiras na rua, poderia apostar que em qualquer instante ela ficaria descalça, dobraria o jeans e brincaria como se nunca tivesse crescido. 

No outro dia, ela acordou romântica. Repetiu a sapatilha do dia anterior porém escolheu um vestido. No rosto, passou um rímel e batom cor de rosa. Permitiu que seus cachos descessem pelas costas, totalmente livres. 

Ele, novamente, ficou hipnotizado. Ela estava parecendo uma flor de tão delicada. Lembrou do último ano na escola. Ela passou o ano mandando cartas de amor para o namoradinho. Não ele, o bonitinho da sala. Na formatura, ficou indecisa entre o vestido curto e o longo.

Naquela tarde, calorenta, ela fez um coque mas alguns fios rebeldes quiseram contrariá-la. Tudo estava errado, diria o lápis que dançava em seus lábios e amargava algumas mordidas.

Ele parecia um satélite em volta de um planeta. Só tinha atenção para ela, que sensualizava sem perceber. 

Os meses se passaram e o inverno chegou. Ela estava impecável com sua combinação bota, meia-calça, sobretudo e cachecol preto. O contraste ficou perfeito com a boca vermelha e o cabelo mel liso.

Apesar da baixa temperatura, ele não sentia frio. Os lábios dela imanavam calor. E ele ficou imaginando se algum dia ele poderia tocá-los...

Hoje, ela estava "naturalmente arrumada". Uma tiara enfeitava seus cabelos, que tentava imitar as ondas do mar. Estava com uma única rosa vermelha na mão. O vestido branco, leve, parecia flutuar em seu corpo delgado. 

Ele a esperava. Com o tradicional terno. Tinha uma certeza: ele a amava. Havia se apaixonado várias vezes. Mentira. Havia se apaixonado pela mesma mulher várias vezes. E isso o fazia único. Feliz.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Café com cebola!?



Hoje estava preparando o almoço- há alguns dias essa ação passou a fazer parte da minha rotina- e escutando Cazuza, o que naturalmente me fez refletir sobre várias coisas, entre elas a infância. Não que eu seja uma senhora mas tenho que aceitar que já não sou mais uma garotinha - por mais que meus pais insistam que eu sempre vou ser a bebezinha deles. Um dos indícios que, lamentavelmente, eu cresci é o fato de estar preparando o almoço. E sinceramente não é essa parte que me incomoda de ter crescido, seria muito feliz se pudesse passar o dia todo cozinhando, escutando música e escrevendo.
Outro dia, estava tomando café com a minha mãe e percebi algo extraordinário: eu estava tomando CAFÉ! Saborear essa bebida sempre foi algo comum -tradicional até- na minha família e quando eu era menor não entendia porque os adultos tomavam aquilo. Talvez de forma preconceituosa mas vamos combinar um líquido preto e amargo não atrai em nada uma criança. Ainda assim, eu insistia em exprimentar, enchia a xícara e depois quereria parar no primeiro gole. Quantas xícaras de café desperdicei...
Outro fato que me surpreendeu foi durante minha saga para matar a fome. Nunca tive problema em comer cebola entretanto ela fazia eu derramar lágrimas e lágrimas. E algo mágico aconteceu hoje- ou eu percebi hoje- meu olho nem se quer ardeu enquanto cortava a danada da cebola. Recordei, mais uma vez, quando era menor, eu achava incrível as pessoas grandes não chorarem cortando cebola. Eu acreditava que era por isso que ela era tão saborosa porque nós tínhamos que chorar para conquistá-la, não podíamos desistir se não a comida não seria tão saborosa. Pois é, será que agora a cebola vai ter o mesmo gosto?
Confesso que não é a primeira vez que passo por isso, o gosto da cerveja também mudou ao longo do tempo, o meu gosto para roupa e música idem. E a conclusão que eu chego é que já não somos mais o mesmos, é inevitável essa mudança. O café já não é tão amargo porque descobri que na vida há coisas ainda mais amargas mas nada que um pouquinho de açúcar não ajude a digeri-las. A cebola me mostrou que estou mais forte, não é qualquer coisa que me faz derramar minhas preciosas lágrimas. Crescer pode ser muito complicado, a gente apanha muito da vida e também batemos muito nela, insistimos, julgamos, desentendemos, deixamos de falar ou falamos demais. Quando as coisas estiverem muito difíceis te dou uma dica: faça um bolo, lambuze-se com a 'rapa' da massa do bolo ou se estiver sem tempo tome um delicioso Starbucks, o efeito será o mesmo!