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terça-feira, 22 de março de 2022

Desabafo para o Instagram

 

Tanto tempo que não escrevo que nem sei como faz mais. Para postar no instagram então com a cara lavada dá até apreensão. Apreensão que só não é maior que a minha indignação e vontade de colocar para fora o que eu penso.

Durante uma reunião de Comissão da OAB, falaram um dado que eu desconhecia: Goiás é o segundo pior estado do país para ser mulher. É óbvio que vivendo aqui eu sinto isso na pele, não preciso de nenhum número para provar o quão difícil é ser uma mulher goiana.

E a pressão aqui começa muito cedo (só tenho como falar da minha experiência), é o comprimento do cabelo, da roupa, o jeito de falar e de se comportar, o que se pode gostar, o que se pode estudar...e com o tempo só piora.

Não adianta o quanto uma mulher se qualifique, não adianta o quanto se imponha,  não adianta o tempo que se dedique a algo, o velho ainda vai ganhar mais que você, mesmo que você tenha mais experiência. O moço vai chegar depois e vai ganhar mais porque ele é um moço. Só vão te pagar quando seu sócio homem cobrar. Fora os inúmeros relatos de todos os tipos de violência naturalizados que já escutei no meu escritório.

O prefeito da capital de Goiás é um homem, o governador é um homem, os senadores são homens, para todo lado que olho nesse estado só vejo homens no poder e com poder.

Há de se pensar que é “normal” em um estado dominado pelo agro mas a esquerda aqui também reproduz e perpetua essa opressão.

Se a mulher goiana não for frágil, vulnerável e passiva, ela não serve porque é “incrível demais”. Somos maioria mas ainda somos silenciadas. Ninguém deveria ter que se diminuir para caber nessa sociedade retrógada.

Tem dias que cansa e eu só quero ser um peixinho e continuar a nadar. Mas outros que eu acordo como hoje, querendo mudar tudo por conta própria.

SER MULHER É UM ATO POLÍTICO!

quarta-feira, 6 de junho de 2018

Roubaram-me

Levaram. Levaram-me.
Em um sábado à noite. Chegaram tranquilos e a passos largos.
E então pediram, não tudo ou de uma vez.
Talvez por necessidade e não por maldade.
Pediram e eu entreguei. Sem nada dizer, sem nada fazer.
Não se deram conta mas levaram muito mais do que só o celular.
Levaram.
Levaram a minha coragem de sair sem rumo.
Levaram a minha liberdade de só viver.
Levaram a minha esperança de uma sociedade melhor.
Levaram meu tempo, meu trabalho e minha paciência.
Levaram um sonho.
Levaram muito. Mas não tudo.
Deixaram. Deixaram-me.
Deixaram o grito de medo guardado na garganta.
Deixaram a indignação no coração que insiste em palpitar.
Deixaram a desconfiança de todos que se aproximam.
Deixaram uma realidade.
Levaram-me e deixaram-me sem rumo.
Não sei mais se os monstros nas ruas sempre estiveram ali.
Ou se é só uma triste ilusão.
Será só uma mania de perseguição?
Devolvam-me.
Devolvam-me a minha segurança.
Devolvam-me a simplicidade da vida.
Devolvam-me um bom futuro.
Devolva-me quem me encontrar.


terça-feira, 27 de junho de 2017

Feeling


Para mim tem um tom de poesia.
O tal do brigadeiro de novo.
Mas uma nova moça se via.
Já reconhecia a malícia do outro.
Uma história bem diferente.
Com mais alma, talvez.
E um pouco de insensatez.
Toda aquela sinestesia.
Ansiedade, medo e curiosidade.
O papo já sabiam que fluia. 
Mas será que os corpos se encaixariam?
Uma peculiar trilha sonora.
O "não" uma distante memória.
Mera ilusão! Mas nada seria em vão.
Um estranhamento 
de quem acaba de se conhecer.
Um reconhecimento
de quem a muito se quer.
Toda uma sutileza.
E aquela seria a deixa perfeita.
Para o coração estremecer. 

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Before and after

Parte I 

Minha, só minha.
Sou eu quem decido quem toca os meus lábios.
E daí se você não é uma boa companhia?!
E se a sua fama for de galinha.
Os outros se acham sempre tão sábios.
É que eles aparecem só na hora do estrago.
Não tentaram, sem sucesso, fugir do seu abraço.
Não ficaram hipnotizados na sua boca desenhada.
Muitos menos riram do seu jeito babaca.

Os outros, ah, são só os outros.
Antagonistas da nossa história.
Pouco me importa pra quantas você jura amor
ou quantas dormiram junto a seu calor.
O que me importa é o agora.

Eu, você...e o tempo para nessa hora.
Olhar no olhar, como se nada pudesse nos separar.
Mas só até você se afastar.
Aí já não sei que tanto você gosta.
Se você volta.

O que me parece ser muito,
pra você  é  insuficiente.
Minhas mãos sempre tão frias
Sim, mostram que meu coração está quente.
E você ainda vem duvidar.

Eu não aprendi a me apaixonar.
Tenho medo de me entregar.
Mais ainda tenho do fim.
De me entediar e querer te deixar.
Enfim.

Quero você só pra mim.
Sem chance de te perder ou dividir.
Dê o dedinho e jura!
Que até o amanhecer serei
sua, só sua.

Parte II

Das contradições da vida, essa é a que mais me irrita.
O inicio e o fim no mesmo lugar, o primeiro e o último beijo.
Você ali, onde eu sempre te deixo.
Como se logo eu fosse voltar ou você me visitar.
A vida não seria tão justa, meu querido.
Como eu, você também tem o seu caminho.
E pode ser que nunca mais eu tenha seu carinho.

Não acredito em contos de fadas.
Quando lembrarmos disso, daremos grandes gargalhadas.
Você longe de ser um príncipe.
Eu, aprendendo a ser uma namorada.
Não vai durar, alguém disse.
Ainda que tivesse sido rápido.
Eu teria tentado.

Já não sou mais a mesma, menos ingênua.
Entre o bom e o ruim disso, há uma linha tênua.
A verdade é que não tiro e nem ponho.
E sei que ainda teremos mais um sol se pondo.
No Rio, em Nova York, no Egito, na China.
Mais um Janeiro, mais uma Copa, mais uma briga.

Meu amor, também não seremos mais os mesmos.
E pode acontecer de não nos reconhecermos.
Talvez, volte aquela fase gostosa.
Em que tudo é descoberta e horas de prosa.
A paixão por uma terra nova e que no fundo já é nossa.